terça-feira, 2 de agosto de 2011

BARBAS DE MOLHO

Depois de uma expectativa otimista no início do ano, o crescimento nos países ricos está comprometido. Entre os emergentes, Brasil incluso, o esforço é esfriar a atividade e conter a inflação.
O quadro ao lado mostra a trajetória da produção industrial nos países ricos e emergentes.
O recuo tem componentes conjunturais, como o terremoto no Japão e o caos no mundo árabe que jogou para cima o petróleo e o custo de vida nos EUA. Isso comprometeu a renda das famílias e o consumo na maior economia do mundo.
Mas é o problema estrutural e de fundo --o endividamento recorde nas economias ricas, sobretudo nos EUA-- que está por trás da nova parada e do aumento das incertezas.
Editoria de Arte/Folhapress
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As duas linhas à direita mostram a trajetória da dívida pública norte-americana. Ela encostou em US$ 14,3 trilhões, no teto do limite autorizado pelo Congresso dos EUA.
Os republicanos (adversários de Obama) condicionam elevar esse teto a um plano rigoroso de corte de gastos. Se o teto não for aumentado (o que dificilmente deixará de ocorrer), a nota dos papéis federais americanos pode ser rebaixada.
Seria um desastre para o sistema financeiro mundial. Pois dezenas de países, Brasil e China, por exemplo, têm bilhões de dólares (suas reservas) investidos em títulos do Tesouro dos EUA. Empresas também.
Esses papéis são usados como garantias para outras operações. Se sua classificação cai, novas garantias terão de ser dadas, abrindo rombos não previstos.
Obama deve ceder até o início de agosto e anunciar um plano de contenção de gastos. Menos gastos federais significará menos atividade partindo do setor estatal.
Já o setor privado ainda não readquiriu força suficiente para 'pegar o bastão' e conduzir, sozinho, a recuperação.
As famílias nos EUA seguem endividadas e perdendo suas casas. E correm para aumentar sua poupança, o que reduz o consumo, responsável por mais de 2/3 do crescimento do PIB.
Do outro lado do Atlântico, o nó grego e do endividamento europeu está longe de ser desatado.
Editoria de Arte/Folhapress
O quadro ao lado mostra que neste ano a maior parte do financiamento do governo grego se dará via FMI e União Europeia. A partir de 2012, os gregos terão de depender cada vez mais do mercado, que quer 'sangue' (a redução do endividamento).
O pacote de corte de gastos recente anunciado pela Grécia é brutal, e deve deprimir ainda mais a atividade do país. Até 25% do funcionalismo público deve ser dispensado.
Grécia é só a ponta do iceberg de dívidas e expectativa de baixo crescimento que assombram também Irlanda, Portugal e Espanha, entre outros.
O quadro geral segue muito ruim.
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Há alguns anos, em um reunião do FMI em Washington, Dominique Strauss-Kahn ficou por quase uma hora, durante entrevista coletiva, absolutamente vidrado em uma jornalista polonesa sentada ao meu lado. Chegou a responder mal e a perder o sentido de algumas perguntas, tamanha a sua concentração na moça.
Ela era de fato estonteante. Mas o comportamento do francês chamou muito mais a atenção. A ponto de vários colegas ficarem comentando animadamente a 'cara de babão' do ex-diretor-gerente na ocasião.
Strauss-Kahn parece ter se safado desta vez do moralismo açodado dos americanos. Deve ter sido uma lição e tanto.

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